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OPINIÃO: Palácio

A primeira eleição para Governador do Estado do Rio Grande do Sul de que me recordo é a de 1982 e, com saudosa nitidez, rememoro aqui, agora, escrevendo, do horário eleitoral gratuito televisivo de então, quando só era mostrada a foto do candidato, seu partido e seu número.

Concorreram naquele pleito Jair Soares, Pedro Simon, Alceu Collares e Olívio Dutra, tendo sido consagrado eleito o primeiro deles, e como vice, Cláudio Strassbuger. Ambos eram do PDS, o Partido Democrático Social, sucessor da Arena direitista, para não dizer militarista.

Após o mandato de Jair Soares, todos os demais que listei acabaram se elegendo para o cargo indigitado, e lhes digo com franqueza, em minha concepção pessoal, homens honrados, governantes respeitados e detentores de costumes, valores e princípios de uma política boa para alguns, ruim para outros, mas que hoje não se vê mais.

Eles trabalharam e residiram no prédio de inspiração e projeção francesa que levou 60 anos para ser construído, desde a ordem externada pelo Doutor Júlio Prates Castilhos, em exercício de quarto mandato, pretendendo a substituição da antiga sede governamental que era considerada incompatível com a grandeza Rio-grandense até no nome: "Palácio de Barro".

Antes daqueles primeiros homens elencados, tantos outros, e tanta gente ali escreveu a história, e não tenham dúvida, traçaram as linhas do somos e seremos, deixando alguma matiz nas cores da vida gaúcha de agora.

Por óbvio, não se pode falar no palácio que leva o nome da primeira capital da República Rio-Grandense, Piratini, sem lembrar da Campanha da Legalidade, que no ano de 1961, resistiu até a ameaças de bombardeios na defesa da democracia, tendo sido cercado por mais de 30 mil pessoas em acampamento na Praça da Matriz, em apoio e solicitude a Leonel de Moura Brizola e à Brigada Militar, o verdadeiro exército do Rio Grande.

Segunda-feira passada estive lá, novamente. Mas, pela vez primeira, fui ao segundo pavimento. Logo ao fim do primeiro lance da suntuosa escada, deparei com o Doutor Getúlio, em busto, lecionando gestão e civismo de vanguarda mesmo em breve sentença entre aspas, abaixo de sua figura de bronze.

Alcancei os salões, europeia e finamente decorados, como conservados em esmero alentador ao ponto de orgulhar. Tudo belo, aos tons de Locatelli.

A solenidade para a qual havia sido convidado estava quase para começar e entendi de bom alvitre me antecipar em ir ao banheiro. Não, melhor, pensei eu: "aqui no palácio vou ao toilette".

Ao encontrá-lo, entrar e ver suas paredes vandalizadas, tomadas por tinta de caneta com toda a sorte de mensagem, até aquelas de natureza imagináveis somente em banheiros, não em toaletes (agora já em português), me dei conta de que o palácio resistiu a tudo, a todos, ao tempo, ao exército, aos possíveis bombardeios, à tanta coisa que até nem sei. Mas sucumbiu, ao menos em uma de suas frações, à falta de educação.

As coisas não vão bem aqui na Província de São Pedro...

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